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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Carlos Bica & Matéria Prima - D.C.
Figura central do jazz nacional desde há um quarto de século, Carlos Bica não pára de procurar trilhar novos caminhos para a sua música, seja renovando velhas parcerias ou encetando colaborações com músicos de outras gerações. Certa vez, em entrevista, disse-me que «todo o músico criador tem interesse em estar em permanente movimento, tem necessidade de ser constantemente surpreendido.» Carlos Bica + Matéria-Prima(certamente uma alusão ao facto de estas peças serem tomadas como materiais para elaborações ulteriores) é mais um capítulo a acrescentar a esse percurso, revisitando peças antigas e abordando alguma da obra alheia que povoa o seu imaginário, reforçando a aura imagética que sempre transpareceu da sua música.
Ao longo da carreira multidimensional do contrabaixista, compositor e arranjador sempre têm coexistido, de modo coerente e frutuoso, elementos provenientes de distintas latitudes musicais – que vão do jazz à música erudita contemporânea, passando pela música tradicional portuguesa e pelo fado – sendo difícil, muitas vezes, destrinçar o papel desempenhado por cada um deles na construção de um universo musical onde reconhecemos características muito próprias. É precisamente nessa confluência de estilos e influências – habilmente absorvidos e processados – que radica a principal mais-valia da sua obra, livre de constrangimentos.
O disco ora em mãos é composto por temas gravados ao vivo em três apresentações da formação na Culturgest, Casa da Música e Museu do Oriente, em Junho e Julho de 2008. A função inicia-se com “D.C.”, longo e arrastado blues, marcado pelas várias camadas que Mário Delgado vai tecendo, a que se vem juntar o contrabaixo, tocado com arco, com aquela leveza tão particular.
Em “Bela Senão Sem” a guitarra de certa forma evoca a sonoridade de Frank Möbus, companheiro de Bica no Trio Azul. O trompete cristalino do alemão Matthias Schriefl (alternado entre diferentes registos, como que dialogando consigo próprio) e o acordeão dolente de João Paulo (autor da peça) contribuem para a placidez das atmosferas.
Melodicamente exuberante, “Believer”, peça que dá nome a um dos melhores discos de Bica, mantém aqui as suas características essenciais, ancoradas num ostinato desenhado pelo contrabaixo, com o piano delicado de João Paulo e os voos planantes de Schriefl a motivarem atenção. “For Malena”, peça do guitarrista Marc Ribot, convoca referências latino-americanas e com o seu trompete alucinado e aquele órgão desengonçado é um dos momentos mais curiosos de todo o disco.
O lado mais lírico da música de Bica emerge mais uma vez na beleza gélida de “Iceland”. A melodia luminosa de “Canção Número Dois” antecede “Roses for You”, peça habitual nas apresentações ao vivo do contrabaixista, que ganha aqui novos e interessantes contornos.
O disco encerra com uma longa exploração do emblema maior de Ry Cooder, o tema principal da banda sonora do filme “Paris, Texas” (1984), do cineasta alemão Wim Wenders, que Bica já havia abordado a solo e no abortado projecto Contra3aixos.
Depois deste belo disco, resta-nos aguardar pelo próximo passo de um músico que nos habituou a horizontes amplos e que continua a surpreender.
by António Branco
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