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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Rodrigo Leão - O Fio da Vida


A carreira de Rodrigo Leão é singular e riquíssima, estando ligada a alguns dos mais importantes momentos da cena musical portuguesa pós-1980. Rodrigo vê-a quase como um filme ou um livro com diversos capítulos, mas sempre com ligação entre eles. Explica-nos que os seus modos nunca se chegaram a alterar e que há coisas que tendem a não mudar: «mesmo no princípio da Sétima Legião fazia coisas que ainda hoje repito», explica, para reforçar a ideia de uma continuidade que a sua música transporta.

A Sétima Legião foi uma lufada de ar fresco e de modernidade na cena musical portuguesa quando surgiu em 1982 pela mão, precisamente, de Rodrigo, Pedro Oliveira e Nuno Cruz. «A Sétima Legião traduzia as influências não só de Manchester, mas também da Galiza, por exemplo, e nisso talvez tenhamos sido diferentes», afirma, em retrospectiva, Rodrigo. A estreia do grupo foi com o single «Glória», clássico maior da nossa música que continha letra de Miguel Esteves Cardoso. Em 1984 aconteceu a estreia em formato grande, com o álbum «A Um Deus Desconhecido», na editora Fundação Atlântica de MEC e Pedro Ayres Magalhães então dos Heróis do Mar. «O meu álbum favorito da Sétima Legião? Talvez o "A Um Deus Desconhecido"», esclarece Rodrigo: «Foi feito com o António Pinheiro da Silva, engenheiro de som que eu respeito muito e é um álbum que já tinha ali um lado cinematográfico expresso nos instrumentais», refere o compositor, reforçando, uma vez mais, a ideia de que tudo na sua carreira está interligado.

Rodrigo fez ainda os álbuns «Mar D'Outubro» (87), «De Um Tempo Ausente» (89), «O Fogo» (92), «Auto de Fé» (94) e «Sexto Sentido» (99), marcos de uma carreira que soube equilibrar os favores do público e o respeito da crítica.

Em 1986, paralelamente à Sétima Legião, Rodrigo Leão e Pedro Ayres Magalhães deram início a uma nova aventura que teria profundas repercussões internacionais: os Madredeus. De baixista na Sétima Legião, Rodrigo passou para teclista nos Madredeus e logo aí estabeleceu-se outra ligação com o futuro da sua carreira a solo. Em Dezembro de 1987 os Madredeus estrearam-se com o duplo «Os Dias da Madredeus», gravado no teatro Ibérico de Xabregas. O álbum apontava uma nova direcção para a música portuguesa e não tardou a colher os favores do público. O sonho de expansão começa a concretizar-se com viagens a Bolonha, Coreia do Norte, revelando aí a vocação universalista do projecto.

«Existir» (90) e «Lisboa» foram os álbuns seguintes dos Madredeus e o aprofundar de uma carreira de sucesso. Rodrigo Leão, no entanto, continuava a revelar uma irrequietude artística invulgar e lançou-se a solo em 1993 com «Ave Mundi Luminar», primeira amostra da sua visão particular do mundo, com participações de Teresa Salgueiro, Francisco Ribeiro e Gabriel Gomes, dos Madredeus.

Rodrigo gravaria «O Espírito da Paz» (94) e «Ainda» (95), dois álbuns registados em paralelo nas mesmas sessões. «Ainda» sairia, no entanto, já depois de Rodrigo ter abandonado os Madredeus para se dedicar à sua carreira a solo. É também o disco que Rodrigo elege como o seu favorito nos trabalhos que realizou com os Madredeus: «Foi o Wim Wenders que escolheu aquelas canções que caíram mesmo bem no filme», explica.

Com a estreia a solo, Rodrigo Leão começou a explorar novas sonoridades, aproximando-se de alguma música contemporânea, do minimalismo e iniciando aí uma viagem que já o conduziu a muitas sonoridades: «Na minha música», refere o compositor, «há desde o Michael Nyman ao tango e à música francesa».

Em álbuns como "Ave Mundi Luminar" (1993), "Mysterium" (1995), "Theatrum" (1996) e "Alma Mater" (2000) a presença de antigos textos em latim executados por vozes líricas indicava claramente o universo para que Rodrigo Leão queria remeter os seus ouvintes. Mas mesmo em trabalhos mais recentes, como o álbum ao vivo "Pasión" (2002) e "Cinema" (2004), esse caminho muito próprio de Rodrigo Leão, pleno de misticismo, também se faz sentir. O carácter contemplativo e introspectivo de parte da música deste grande compositor português é inegável e mesmo na retrospectiva de carreira que é "O Mundo (1993-2006): O melhor de Rodrigo Leão", editado internacionalmente no final de 2006, é notória a divisão do reportório deste compositor entre as canções mais "mundanas", próximas do tango, da música para cinema ou da bossa nova - como acontece com «A Casa» a que Adriana Calcanhotto deu voz no álbum «Alma Mater» - e as peças mais espirituais que ocupam o segundo CD desta retrospectiva. A exposição internacional garantiu-lhe os mais rasgados elogios: Pedro Almodóvar, por exemplo, não teve dúvidas e descreveu Rodrigo Leão como «um dos mais inspirados compositores do mundo». Alianças com nomes de primeiro plano a nível internacional, como Beth Gibbons e Ryuichi Sakamoto que participaram em «Cinema», são igualmente prova do alcance da música de Rodrigo Leão e do seu apelo universalista.

Em 2007, Rodrigo deu música às imagens da excelente série de televisão «Portugal - Um Retrato Social» e percorreu várias salas do nosso país com essa música que ajudou a compor o nosso retrato sociológico. Seguiu-se o desafio dos responsáveis pela maior série de ficção já produzida em Portugal, «Equador», para a qual Rodrigo compôs algumas evocativas peças que são já momento alto dos seus concertos, por estarem ligadas a alguns dos mais emocionantes momentos do desenrolar dessa história.

Pelo meio da sua carreira a solo, Rodrigo teve ainda tempo para lançar o projecto Os Poetas que exploraram o universo das palavras e da poesia e das emoções com o álbum «Entre Nós e as Palavras», de 1997.

Agora abre-se mais um capítulo na história ainda em desenvolvimento de Rodrigo Leão. Chama-se «A Mãe» e é um ambicioso trabalho com participações de peso como acontece com Neil Hannon, o homem dos Divine Comedy, que dá voz a «Cathy», Stuart A. Staples dos Tindersticks que surge em «This Light Holds So Many Colours» ou Melingo, o grande embaixador do novo tango argentino que surge em «No Sè Nada».

«O Cinema Ensemble», explica Rodrigo, «participa muito mais neste disco. A Ana Vieira canta cinco ou seis temas e em dois deles ela ajudou-me mesmo a compor as frases vocais. Está completamente integrada. E todos os outros elementos, como a Celina da Piedade, por exemplo, revelam novas facetas, estando completamente entregues».

«As novas músicas», prossegue, «foram compostas em movimento, com diferentes janelas sobre o mundo, o que me permitiu explorar diferentes emoções, diferentes olhares». Rodrigo confessa que se habituou a incluir na sua bagagem um par de auscultadores, um computador e um pequeno teclado com que foi escrevendo as histórias que agora se contam no novo registo que descreve como «mais introspectivo, nostálgico e melancólico». «Apesar de ter alguns temas mais alegres, este é um disco que eu fiz muito voltado para dentro,» assegura Rodrigo que inclui no novo trabalho marcas das suas viagens aos Estados Unidos, a Itália ou à Índia: «Gravei sons de rua, crianças a brincar, o canto de pássaros. Às vezes até só com o telemóvel», adianta.

O Cinema Ensemble continua a contar com Celina da Piedade, Ana Vieira, Viviena Tupikova Marco Pereira, Bruno Silva, Luís Aires e Luís San Payo, uma equipa imbatível tanto em estúdio, como em palco, local onde já se habituou a arrancar "bravos" e incessantes aplausos com a música que executa e que soa quase mágica.

Em 2009, Rodrigo Leão continua a escrever a sua história pessoal com música que o afirma cada vez mais como um compositor de excepção.

http://www.uguru.net
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