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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Dazkarieh - Vitorina


Depois de 10 anos de grupo, várias formações e muitos concertos em Portugal e no estrangeiro, este “Hemisférios” surge-nos agora como uma súmula do caminho percorrido nos últimos 4 anos por um grupo incomparável no meio musical português e um dos mais internacionais de sempre.

Se nos anos 70 o radicalismo era tocar exactamente como nas recolhas, nos anos 90 esse radicalismo já se centrava em formas diametralmente opostas ao recolhido, com orquestrações, harmonizações e instrumentações que pouco ou nada tinham que ver com essas recolhas.

Se sempre houve algum pudor e timidez em fazer diferente e arriscar, estes têm sido gradualmente abandonados, a custo, importa dizer, pelas novas gerações que trabalham o repertório de tradição oral portuguesa.

Em Dazkarieh o objectivo não é fazer diferente ou ser radical, aliás, não há qualquer objectivo para além de fazer música. Seja compondo originais, seja trabalhando uma tradição rica e diversificada como é a nossa.

Estamos perante um grupo de jovens músicos e excelentes instrumentistas que nunca tiveram a tradição como ponto de partida. As suas influências musicais assim o revelam. Esta aproximação acabou por ser um processo natural e que se tem revelado bastante proveitoso para a música portuguesa. Se para alguns o excesso de experimentação eléctrica é um pecado, convém reparar que o acústico nunca desaparece no som dos Dazkarieh, aliás essa é uma imagem de marca do grupo e uma das premissas básicas das suas composições.

A inclusão de novos instrumentos como a sanfona e a bateria, até agora alheios à já vasta paleta criativa utilizada, bem como a cada vez maior atracção por instrumentos costumizados e exclusivos (vide o bouzouki português - meio baixo meio guitarra portuguesa, a gaita transmontana com chave, o bandolim de 10 cordas) permitem agora uma maior e poderosa objectividade sonora, que é bem espelhada nos seus concertos.

A gravação de um disco duplo, surgiu naturalmente da necessidade de afirmação de uma realidade que já faz parte dos seus concertos há cerca de 4 anos. Se por um lado as composições originais, baseadas em várias geografias musicais, foram o ponto de partida na sua génese, os últimos são já um abraçar respeitoso a uma tradição que não é imutável. E isso mesmo se revela em “Hemisférios”. Duas faces da mesma moeda, uma grande originalidade e a necessidade de colocar cada coisa no seu lugar. Num dos discos, os seus originais, que serão dificilmente rotuláveis, e no outro a sua versão da música de tradição oral do nosso país. Da dualidade, eléctrico/ acústico, surge-nos uma obra ímpar, uma afirmação e um desafio ainda maior na criação de música cada vez mais única e singular.

Nuno Gonçalo Barros
Lisboa, 21 de Janeiro de 2009

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