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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

B Fachada - Estar à espera ou procurar



A seu tempo, o cepticismo fará as pazes com B Fachada. Para já, Um Fim-de-Semana no Pónei Dourado, o primeiro fonograma de longa-duração, é o passo de gigante que certifica tudo o que parecia inevitável desde que os primeiros sintomas foram revelados na netlabel Merzbau (agora encerrada em termos de edições, mas bem viva na disponibilização dos impressionantes Até Toboso ou Mini CD: produzido por Walter Benjamin).
As indubitáveis qualidades de Pónei Dourado já não nos deixam mentir, porque Bernardo Fachada é isso aí: alguém capaz de gerar um entusiasmo praticamente inédito nas últimas duas décadas da canção portuguesa. Ele é simultaneamente o traficante duplo, que infiltra canções da cidade na aldeia e vice-versa; o contador de histórias sensíveis ao azedume e ao comportamento; e o músico elogiado pelo comparsa Samuel Úria (num press-release que vale mesmo a pena ler). Iluminado por uma excelentricidade muito sua, Bernardo Fachada afirma-se como um valente estratega da canção que foge à inconsequência e ao desenraizamento dos êxitos do horário nobre.
Pela forma como espelha o Verão de B Fachada, Um Fim-de-Semana no Pónei Dourado é a versão Beta de si próprio, um fresco apaixonadamente irreflectido (como os amores retratados), um conjunto de canções que usa a alma como única maquilhagem (sem riscas no nariz). Anda que está dura a erecção criativa de um B Fachada perfeitamente lúcido no malabarismo lírico que faz com o tempo, o território (ele já tocou na Zé dos Bois, na Zé dos Bois, na Zé dos Bois) e o humor (auto-)referencial criminosamente seco, porventura a sua grande marca de autor. Entre o “z” de “Zé” (o burguês emancipado) e o “z” de “Zé dos Bois” (em “Lá na Selva”), desfila o abecedário da canção que recusa passar indiferente. Efémeros ou não, muitos dos temas incluídos em Pónei Dourado têm tudo para perdurar nos lábios de quem se atrever a cantá-los à mesa com amigos em jantares bem regados. Foi este empolgamento que levou o Bodyspace a quebrar o gelo com Bernardo Fachada.

in Blitz

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