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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Tv Rural - Mar




"filomena grita!, dos TV Rural, é um disco que nos propõe uma viagem a um recôndito território musical, onde uma paleta de sonoridades mais ou menos conhecidas se funde com a diferença, com o inesperado e até com o insólito. E há neste entrecruzar de trilhos rítmicos, harmónicos e melódicos algo de particularmente fresco e tonificante, que nos faz olhar com uma centelha de esperança para o horizonte da música moderna feita em português. Neste contexto, os TVR oferecem-nos uma abordagem suficientemente aberta e ecléctica para escaparem ilesos a uma catalogação imediatista, pese embora seja nas margens do rock que lançam âncoras, antes de nos embarcarem nas suas viagens musicais. Porém, não se julgue que a liberdade linguística das suas canções se esvazia nas malhas da incoerência, já que a destreza com que procedem a alterações rítmicas, a variantes de acordes, ou mudanças de humor no interior de uma boa parte dos temas apresentados; ou a maturidade com que manipulam o seu material, polvilhando-o com insondáveis subtilezas capazes de lhe atribuírem um sabor genuinamente português, acabam por ser o garante de um fio condutor para todo o disco.

As letras não deixam de ser peculiares na escolha dos assuntos ou na abordagem dos conteúdos, tendo como virtude maior a facilidade assustadora com que nos remetem para a construção de cenários mentais, sendo, por isso, particularmente cinematográficas. Desde a badalhoquice grotesca de ‘o animal que há em nós’, passando por essa espécie de marasmo de Mar da Palha transformado em Revolta na Bounty, que é ‘navegadores de recreio’, até ao quente passeio pela ribeira dos detritos, no acético conforto do ‘escafandro’, os TV Rural oferecem-nos paisagens vagas, personagens enigmáticos ou histórias surreais, que casam bem com a proposta alternativa do[s] seu[s] som[ns]. A dar corpo às palavras, a peculiaridade do timbre e da dicção de David Jacinto ajuda a reforçar a ambiência insólita do projecto, a que se junta um uníssono de vozes em coro que não se resigna a um trivial protagonismo de segundo plano. Dito isto, se alguém mais distraído não retiver logo nas primeiras audições de filomena grita! a maturidade e coesão do som dos TVR, deverá deter-se sobre a faixa ‘tens tempo’, onde a banda se aventura por uma interpretação expressionista do tema. Aqui, a toada lenta do início da canção torna ainda mais evidente a forma como cada músico sabe ocupar o seu lugar, sem procurar protagonismos balofos ou se diminuir em falsas modéstias. A abertura de espaços que se gera para o diálogo entre os diversos instrumentos, sejam eles guitarras, baixo, bateria ou voz, é de uma beleza e maturidade assinaláveis, a que se junta uma sábia transição de humores, capaz de transformar uma música dócil num corrosivo grito de cólera. Tudo isto embalado numa impecável produção - assinada pelos próprios -, a que se junta um som de primeira água.»"

By João e à Ana Bagão

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